Fazer 100 milhões de pessoas mudarem a forma de se comunicar (alô, ChatGPT!), tornar qualquer profissional um programador amador, vencer pilotos humanos no principal campeonato de drone do planeta, causar uma queda de US$ 100 bilhões no valor de mercado de uma big tech, mudar a configuração de cargos em empresas do mundo inteiro.
Esses são apenas alguns dos marcos da inteligência artificial em 2023. Não à toa, o dicionário inglês Collins elegeu o termo “inteligência artificial” a palavra do ano. Mas, se falamos há tantas décadas da IA, por que este foi O ANO?
Primeiro porque a natureza dessa tecnologia é diferente. Até então, com a IA tradicional éramos capazes de realizar tarefas específicas e lógicas.
A chegada da IA Generativa muda tudo. Enquanto as gerações anteriores de modelos de IA eram muitas vezes baseadas em dados estreitos e finitos, os atuais podem ser alimentados por modelos básicos, que contêm redes neurais expansivas treinadas em grandes quantidades de dados não estruturados e não rotulados em uma variedade de formatos. Na prática, significa que agora somos capazes de criar resultados totalmente novos, como textos, fotos, vídeos, código, dados ou renderizações 3D, a partir de bilhões de dados disponíveis em múltiplas fontes.
De acordo com a plataforma Statista, a capacidade transformadora da IA Generativa já gerou um aumento de 40% na eficiência da criação de conteúdo, de 75% na produção criativa e de 90% no nível de automação em determinados fluxos de trabalho.
Um relatório do Deutsche Bank indica, ainda, que as barreiras à adoção dessa IA são tão baixas que qualquer pessoa com acesso à internet pode operar uma ferramenta baseada num grande modelo de linguagem sem maiores custos e com pouco treinamento.
Por isso, reitero em minhas palestras que essa IA nos dá superpoderes. Todos nós temos à mão, agora, ferramentas como ChatGPT, Dall-E, MidJourney, AlphaCode, Synthesia, Copy.ai, Google Bard, Claude e LLaM.
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Uma pesquisa recente da McKinsey sobre o atual estado da inteligência artificial confirma o crescimento explosivo das ferramentas de IA Generativa de 2022 para cá. Menos de um ano após o lançamento de muitas dessas ferramentas, um terço das organizações afirma que suas organizações já estão utilizando a IA Generativa regularmente em pelo menos uma função do negócio.
E a grande virada do jogo é que esse tipo de IA está sendo aplicada não apenas em áreas tradicionalmente adeptas a novas tecnologias, como marketing e vendas. Ela está mudando a gestão de talentos, a concepção de produtos, a criação de novos negócios. Enfim, a maneira como os profissionais se comunicam e trabalham com máquinas.
Por outro lado, a adoção em larga escala da IA Generativa suscita reflexões e cuidados. Como é preciso ter em mente diante de qualquer tecnologia ou inovação de impacto. As empresas precisam, por exemplo, implementar os processos e estruturas corretos para explorar a tecnologia de maneira eficiente e segura, segundo um relatório recente do Goldman Sachs.
Organizações e profissionais também terão que lidar com dilemas como a precisão e confiabilidade do que é gerado automaticamente, a privacidade de dados pessoais e os diretos autorais.
Tudo faz parte do novo jogo e da revolução que se avizinha. Afinal, toda disrupção carrega seus riscos. O cinema e a ficção já nos ensinaram que nenhum superpoder pode ser exercido sem gerar algum inconveniente. //
Guga Stocco é criador do primeiro banco digital do Brasil e de uma infinidade de negócios inovadores; membro do Conselho de Administração da Totvs, Vinci e Falconi Consultoria. Fundador da Futurum Capital e Fpass.