Home PessoasOpinião André Bersano: O fim dos labs (como os conhecemos)

André Bersano: O fim dos labs (como os conhecemos)

Se na sua empresa a inovação é pensada por um time exclusivo que fica dentro de um departamento específico, lamento dizer: vocês serão engolidos


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por bem2030

No exato momento em que você está lendo esta frase, em algum lugar do mundo um grupo de garotos das gerações Y e Z, reforçados por um ou dois baby boomers, está debruçado em um projeto que promete acabar com a sua empresa em, no máximo, dois ou três anos. Inovação não é um modismo corporativo. Não tem a ver (apenas) com mindset ágil. Não é um conceito preso às startups. Muito menos nasceu na economia 4.0. Inovação é, acima de tudo, a responsável por dividir o mundo em dois grupos: de um lado, temos os estacionamentos; do outro, os aplicativos de carro. E um está acabando com o outro. Um estudo recente da Accenture revela um dado assustador: de 2000 até hoje, 50% das 500 maiores empresas listadas pela Fortune não existem mais. Simplesmente desapareceram.

Conhecido por realizar os rankings de Melhores Empresas para Trabalhar em 61 países, o Great Place to Work (GPTW) é a principal consultoria em negócios com foco em pessoas do mundo. Realizamos diagnósticos de cultura e clima organizacional em mais de 10 mil empresas globalmente – e em cerca de 3 mil só no Brasil. Recentemente, incluímos no questionário do GPTW uma pergunta bastante simples, que mede o envolvimento das pessoas em novas e melhores formas de trabalhar.

O que parece uma questão despretensiosa é, na verdade, a mais poderosa ferramenta para medir a cultura da inovação nas organizações. Batizado de Innovation Velocity Ratio (IVR), ou taxa de velocidade da inovação, o IVR foi criado por uma equipe de cientistas e analistas de dados do GPTW. A mensagem é bastante clara: inovação não é um time específico de pessoas, nem empresta o nome a um departamento. A inovação precisa ser by all, ou seja, estar na cultura da empresa. Do presidente ao operador de máquina, toda força de trabalho precisa estar alinhada e ter autonomia para se adaptar e inovar. Sem exceção. Parece difícil – e é mesmo.

Foguete da inovação

O ritmo da inovação possui três estágios. A maior parte das organizações, no Brasil, ainda está no estágio 1 (de atrito), que significa que, para cada duas pessoas que não percebem uma cultura de inovação, três enxergam (a proporção é de 3:2). No nível 2 (funcional), a escala é de 5 para 2, ou seja, para cada cinco colaboradores que se dizem prontos para inovar, dois ainda experimentam obstáculos na empresa. O estágio 3 (acelerado) é o mais avançado e tem uma relação de onze para dois (11:2).

Pesquisas do GPTW apontam a existência de cinco barreiras ocultas que retardam ou inviabilizam a agilidade, a capacidade de adaptação e a inovação de uma organização: o medo cotidiano; a falta de vínculo/propósito; fazer mais com menos; ter muitos líderes “linha de frente”; e funcionar com o mindset antigo e estagnado. O questionário do Great Place to Work serve de bússola e nos ajuda a identificar quais são os principais obstáculos. Os gestores incentivam ideias e sugestões e as levam em consideração de forma sincera? Os líderes envolvem as pessoas em decisões que afetam suas atividades e seu ambiente de trabalho? Os gestores reconhecem erros não intencionais como parte do negócio? Recebo os equipamentos e recursos necessários para realizar o meu trabalho? Faço a diferença por aqui?

Organizações com o Innovation Velocity Ratio acelerado geram ideias de alta qualidade e têm alta velocidade de implantação, atingindo um grau maior de agilidade – e apresentam até 5,5 vezes mais crescimento de receita do que companhias menos inclusivas para a inovação. Colaboradores de empresas com altos índices de IVR são quatro vezes mais propensos a se sentirem orgulhosos do seu trabalho, quatro vezes mais dispostos a dar mais de si para concluir um trabalho e nove vezes mais inclinados a considerar sua organização um great place to work.

Transformar a cultura de uma empresa exige esforço e comprometimento, principalmente da liderança. Mas se você tem algum interesse em sobreviver e, mais do que isso, prosperar na nova economia, esse caminho é irreversível.

André Bersano é diretor do Great Place to Work Rio Grande do Sul.

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