Home PessoasOpinião Denis Nakazawa: Um sandbox para o futuro 

Denis Nakazawa: Um sandbox para o futuro 

Embora ainda nebuloso, o ambiente DeFi representa um grande laboratório de soluções inovadoras que poderão pautar o setor financeiro nos próximos anos – em especial, a tokenização. Essa é a opinião de Denis Nakazawa, líder da área de mercado de capitais LatAM da Accenture. Ele é o convidado de estreia da seção Radar 20/30, que busca captar o ponto de vista de especialistas sobre temas presentes na vanguarda do setor


Denis Nakazawa
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por obile
Tokenização

O DeFi tem crescido de modo muito acelerado. Hoje, há cerca de US$ 250 bilhões em aplicações. Saiu do zero para esse patamar muito rápido. Mas ainda é como se fosse um faroeste, uma terra sem lei. Não há regulação nem xerife. Com apenas um clique, você linka a sua carteira digital e está apto a movimentar uma gama variada de negócios. Desde artigos supercertificados até transações arriscadas. Algumas têm altíssima rentabilidade. Outras podem quebrar você. Tudo é feito com blockchain e nem sempre é possível saber quem está do outro lado. Não há um CNPJ. Você também não encontra um call center. Ou seja, é bastante perigoso. Mas há um grande diferencial: a tokenização. Essa é a tecnologia por trás do DeFi. E ela, sim, é interessante.  

A tokenização pode permitir trazermos uma série de inovações desse mundo desregrado para o nosso mundo, com quase os mesmos benefícios. Entretanto, temos o desafio de definir uma regulamentação. É necessário tornar isso institucional para que possa deslanchar. Precisamos dessas regras para coibir transações maliciosas e conferir transparência e previsibilidade aos negócios. A partir daí, o token poderá se configurar em uma ponte entre o digital e o mundo físico. Uma das oportunidades é atingir valores que hoje estão bloqueados. E o melhor exemplo está no mercado imobiliário.  

Um edifício, via de regra, circula apenas uma vez. Você o constrói e o vende. Depois disso, ele fica encostado no seu balanço patrimonial. Com a tokenização, é possível fracionar um edifício de R$ 100 milhões em tickets de R$ 1 e oferecê-los no mercado para muita gente comprar. É possível negociar centésimos do Empire State, por exemplo. Isso também vale para casas e apartamentos. O valor do token vai seguir o modelo de oferta e demanda. Isto é, a valorização existirá se houver procura.  

Hoje, o mercado de real state (termo em inglês que se refere a todo tipo de bem tangível, como imóveis ou ativos imobiliários) está avaliado em US$ 330 trilhões. É mais do que a economia mundial. Dá para dizer que temos uma mina de ouro enterrada debaixo dos nossos pés. A tokenização é um duto que acessa esse dinheiro. Atualmente, o ecossistema de DeFi é bem avançado. Mas o cenário muda quando pensamos nessa migração para o mundo físico. Ainda não há casos em escala. Apenas testes de conceito.  

Sem dúvida, haverá temas que precisaremos debater. Quando tokenizarmos o Empire State, quem comprar aquele pedaço também terá um pedaço do prédio? Ou esse direito é exclusivo de quem tem a matrícula do imóvel? São perguntas que surgem nessa transposição para o mundo real. As respostas necessariamente terão de vir pela regulação. E a perspectiva é boa. Mais de 90% dos bancos centrais ou órgãos reguladores já têm iniciativas nesse sentido. O próprio Bacen enxergou o potencial e está acelerando o processo.  

O De Fi vai continuar florescendo. É difícil proibi-lo. Mas podemos começar a construir um novo capítulo se o trouxermos para o lado de cá com algum nível de controle.  

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