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Guta Tolmasquim: Qual é o real motivo do seu rebranding?

VALE MESMO A PENA MUDAR A SUA MARCA? À FRENTE DA PURPLE METRICS, STARTUP DEDICADA A TANGIBILIZAR OS RESULTADOS DO BRANDING, A PUBLICITÁRIA GUTA TOLMASQUIM CITA QUAIS PONTOS LEVAR EM CONTA ANTES.


Guta Tolmasquim – Fundadora e CEO da Purple Metrics
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por obile

No universo do marke­ting, há um tema que sempre rende polêmi­ca: o rebranding. Quase sempre, as discussões são bastante polarizadas: há quem acredite que é preciso mudar tudo, enquanto outros defendem que as marcas nunca devem mudar. Não é à toa que isso acontece: quase sempre a forma como as pessoas pensam sobre as marcas envolve sentimentos, apegos, identidades e ideologias.

Faz sentido, mas marca não é uma questão arbitrária. Muito pelo contrário: tal como o jornalismo ou o direito, ela é uma ciência social aplicada (acho até que deveria ser transformada numa ciência eco­nômica!), o que quer dizer que por trás de impressões há uma série de dados que precisam ser leva­dos em consideração. E entender o que esses dados dizem, em uma abordagem científica, é mais do que importante na hora de pensar se uma empresa deve ou não fazer um rebranding. Spoiler: já vi muito rebranding motivado por troca de liderança de marketing ou porque o time queria liderar um projeto na­quele momento.

Antes de propor um rebranding, é preciso pensar no significado do termo “marca”. Depois de muito es­tudar sobre o tema, construímos uma definição no Purple Metrics que acho que faz bastante sentido: “Marca é a forma como as pessoas percebem as empresas. Branding é construir essa percepção de forma estratégica”. Assim, toda empresa é dona de uma narrativa. É preciso en­tender o que essa narrativa quer di­zer – e, se necessário, reconstruí-la de maneira estratégica.

Há três grandes cenários que justificam uma mudança de marca. O primeiro acontece quando a empre­sa evolui sua atuação e a marca não a representa mais – um movimento que é muito comum em startups. O caso mais recente é do Wellhub, que até outro dia se chamava Gympass, mas se tornou na pandemia muito mais do que “um passe para acade­mias”. Foi uma mudança necessária porque o trabalho do marketing e de vendas já estava ficando confu­so: como explicar que um “passe de academias” também tem terapia e apps de meditação? O caso do nome é extremo, mas esse cenário aconte­ce também quando a marca não se reconhece mais em seu visual, posi­cionamento ou tom de voz.

Outro panorama comum acon­tece quando a categoria em que a empresa se situa muda. Um exem­plo recente é o do Itaú, cujo merca­do se transformou radicalmente nos últimos 10 anos com a chegada dos bancos digitais. Deixar o logo mais limpo, assegurar o poder do laranja e, principalmente, trazer sua credi­

bilidade/segurança/tradição com o slogan “feito de futuro” são passos importantes na direção de mostrar que uma marca centenária segue se renovando, buscando não per­der sua participação de mercado ou seu share of voice. No caso do Itaú, houve ainda uma reorganização do portfólio – um efeito borboleta de a categoria ter mudado e os clientes preferirem marcas que falam menos sobre status e mais sobre proximi­dade. Nunca é uma decisão simples.

Por fim, uma mudança também pode acontecer quando o mundo muda – como dizia Camões, “mu­dam-se os tempos, mudam-se as von­tades”. Lembra da época em que todo comercial de cerve­ja tinha uma mulher seminua objetifica­da? É o tipo de pro­paganda que há 10 anos não faz mais sentido – e que, caso fosse feito atual­mente, certamente geraria perda nas vendas e uma série de comentários con­trários à marca nas redes sociais. Não é à toa que hoje, em vez de uma pelada de plantão, as cervejas pre­ferem mostrar que são puro… malte.

Em tempos de cancelamentos e identidades, vale ainda dizer que não vale a pena mudar uma marca só para agregar “propósito” a ela, buscando se diferenciar da concor­rência. Nem toda marca precisa de um propósito, até porque os consu­midores esperam que as empresas cumpram suas promessas. Prome­ter um mundo melhor e não cumprir é algo que faz uma marca perder valor –- uma lição que qualquer po­lítico em época de campanha elei­toral sabe. Propósito é uma pos­sibilidade que pode fazer sentido quando alinhada com o fundamen­to da empresa. Ele funciona para trazer resultado quando a empresa usa o propósito como elemento de diferenciação, lastreado na entre­ga do produto. (Ué, mas propósito é pra trazer resultado? Bom, aí a gente entraria em um debate mais profundo).

Fato é que branding é uma fer­ramenta para trazer resultados. Se não está funcionando, podemos pensar em rebranding. Se uma mar­ca muda, é para trazer mudanças na receita, é para facilitar o trabalho do time de vendas, para modificar a experi­ência de um aplica­tivo. Algo aconteceu e, “não mais que de repente”, a mar­ca não representa mais a empresa, não se encaixa mais no mundo de hoje ou não conversa mais com o consumidor. Aí sim, justifica-se a mudança. Para cada resultado diferen­te, há um dado que comprova porque essa mudança deve ou não ser feita.

O que muita gente esquece de colocar na conta é o risco do re­branding. Quando a mudança da marca elimina elementos distinti­vos que fazem o cliente reconhecer a empresa, o produto e sua oferta, temos destruição de valor. Só faz sentido mudar se esse valor não es­tiver trazendo resultado agora ou no futuro para a empresa. Então, antes de quebrar o vidro e soar o alarme de incêndio do rebranding, pense duas vezes e olhe as planilhas de novo. Talvez não esteja na hora de fazer um rebranding.

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