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Sem medo dos dados

ENCARAR OS DESAFIOS DE UMA GESTÃO DE VENDAS DATA-DRIVEN É FUNDAMENTAL PARA IMPULSIONAR A PRODUTIVIDADE DO SETOR COMERCIAL. É AÍ QUE ENTRA EM CENA A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


LUIZ EDUARDO KOCHHANN
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por obile

O tripé automação, digitalização e in­teligência artificial (IA) dita os rumos de setores comerciais. Especialmen­te nos negócios B2B, as vendas pre­senciais estão com os dias contados. O relatório Future of Sales, do Gart­ner, estima que 80% das interações entre fornecedores e compradores ocorrerão em canais digitais até o fim de 2025. Trata-se de uma expe­riência omnichannel, na qual a inte­gração será fundamental para evi­tar atritos – até porque, conforme a McKinsey, cada cliente B2B utilizará em média dez canais em sua jornada de compra.

Entre outros motivos, a virtualiza­ção das compras é impulsionada pela chegada dos millennials, os primeiros nativos digitais, às posições de toma­da de decisão. Eles são ainda mais céticos do que os seus antecessores em relação ao papel dos vendedores: 44% preferem não ter interação com o representante de vendas em um ambiente de compra B2B, por exem­plo. Entre os compradores, o percen­tual é mais baixo, mas representativo: 33% esperam uma experiência de compra sem contatos presenciais.

A expansão das compras digitais significa mais dados sobre o com­portamento dos clientes nas mãos dos fornecedores. Capturar, organi­zar e utilizar esses dados, sistema­ticamente como alicerce da tomada de decisões são desafios de gran­des proporções. Assim como são de grandes proporções as possibilidades abertas pela migração de um modelo comercial baseado na intuição para uma estratégia de vendas baseada em dados. O data-driven selling, se­gundo o Gartner, será uma realidade para 60% das empresas B2B ainda em 2025.

Diana Branisso, coordenadora do MBA e da pós-graduação em Marke­ting e Mídias Digitais da FGV, diz que as empresas ainda conhecem pouco sobre seus clientes – o que pode mu­dar se os dados integrarem de fato suas estratégias de venda. “Temos muitos dados? Temos. Paramos para analisá-los? Muito pouco”, lamenta. “Ao parar para analisar profundamen­te o perfil de compra, o ticket médio e o perfil sociodemográfico, por exem­plo, encontramos muitas oportuni­dades de negócio. É um exercício de dar dois passos atrás para dar dois à frente”, completa.

Para Branisso, os silos de infor­mação dentro das organizações são a principal barreira ao data-driven selling. Os dados existem, mas nem sempre chegam aos tomadores de decisão no formato de insights, per­

manecendo confinados em suas áreas de origem. Ou seja, o problema não diz respeito à tecnologia, mas à comunicação. “A construção coletiva entre os diferentes setores da com­panhia é pouco estimulada devido a fatores culturais. A informação é vista como poder e, muitas vezes, não se percebe que entregá-la para outra área faria bem a toda a empresa.”

No setor comercial, a utilização de ferramentas para analisar um grande conjunto de dados relacionados às vendas – como histórico de compras e de comportamento do mercado – pode ajudar em uma série de de­cisões: quais produtos oferecer, em qual momento comunicar as ofertas e com qual abordagem. Tudo persona­lizado a partir do perfil de cada com­prador. Ao mesmo tempo, os dados servem para avaliar o desempenho, compará-lo com tendências do mer­cado e manter a competitividade da empresa, fazendo ajustes nas estra­tégias sempre que necessário. Além de melhorar a eficiência operacional, o data-driven selling garante clientes mais satisfeitos, elevando os índices de retenção e fidelização.

Do ponto de vista do vendedor, à medida que as interações presen­ciais diminuem, os dados são aliados para desenvolver novas formas de influenciar as decisões de compra. Da postura de “fornecedores de in­formação”, esses profissionais devem

evoluir para se tornarem “criadores de sentido”, deixando tarefas técnicas para a tecnologia. “Se você perguntar para uma IA o que ela não faz, ela te responderá que não lida com emoções”, diz Branisso. “O vendedor deve ser capacitado para trazer o que a tecnologia não oferece: cuidado e emoção.” Ou seja, enquanto a tecnologia enfrenta demandas operacionais e técnicas, o ser humano entra para compreender problemas e analisar soluções, quebrar barreiras de negociação, acolher e interpretar o cliente.
O IMPULSO DA IA
Outro desafio que se impõe em uma estratégia de vendas data-driven é o manejo de um grande volume de dados. Uma pesquisa da Data Paradox, realizada pela consultoria Forrester a pedido da Dell Technologies, aponta que 70% das empresas coletam dados mais rapidamente do que podem utilizá-los. Além disso, 61% das equipes de dados estão sobrecarregadas. Já a explosão no número de canais digitais aumenta o fardo nas costas das equipes comerciais se a situação não for bem gerida. As consequências, nesse caso, são contrárias às pretendidas: desorganização, baixo rendimento, retrabalho e falhas de comunicação – tudo a um alto custo.

“Muitas vezes, as empresas coletam dados que elas não sabem por que coletam – mas coletam porque podem usá-los no futuro”, afirma Rodrigo Sartório, diretor de produto da TOTVS, . Ele explica que uma estratégia de data-driven selling bem-sucedida depende de três fatores principais. O primeiro deles é a verificação da qualidade dos dados. Ou seja, a checagem da sua integridade, segurança e possíveis redundâncias. Depois, é fundamental entender qual será a aplicação desses dados, verificando quais informações são relevantes para o uso pretendido. Por fim, a gestão dos dados propriamente dita. “O passo final é desenvolver uma interface para que o consumo dos dados, uma vez digeridos pela IA, faça parte do dia a dia dos usuários em uma jornada sem barreiras de experiência”, detalha Sartório.

A TOTVS, uma empresa especializada em sistemas e plataformas para digitalização de negócios, aplica funcionalidades de inteligência artificial em seus produtos. Uma delas, que deve ser lançada em breve, analisa o histórico de relacionamento das companhias com os clientes. A partir disso, faz sugestões de venda, identificando quais produtos oferecer a cada comprador. Junto com a sugestão, a tecnologia explica o porquê daquela proposta, indica qual quantidade e qual discurso o vendedor deve utilizar para abordar o cliente e concluir a venda.

Segundo a McKinsey, o uso da IA generativa (GenAI, na sigla em inglês) em vendas B2B garante um aumento de produtividade de 10% a 15%. Os percentuais são resultado da capacidade da GenAI em fornecer insights em tempo real, tornando as equipes comerciais mais ágeis e responsivas às necessidades dos clientes. Os ganhos com a produtividade adicional ultrapassam a marca de US$ 1,2 trilhão em vendas e marketing – aliás, as duas áreas em que a IA mais gera valor nas empresas. Além disso, aquelas que combinam experiências personalizadas com o uso de GenAI têm 1,7 vez mais chances de aumentar sua participação no mercado.

Por ora, a adoção da IA generativa apenas engatinha. A pesquisa B2B Pulse Survey ouviu quase 4 mil lideranças, de 13 países, em 34 setores, para verificar o status da aplicação da tecnologia. Apenas 21% das lideranças comerciais (alta gerência, líderes de venda e de marketing) informaram que suas empresas viabilizaram totalmente a adoção da GenAI na gestão de compras B2B. Outros 22% disseram que a testaram apenas em usos específicos.

Para Sartório, da TOTVS, o segredo é não adotar a tecnologia por moda: é fundamental entender o que faz sentido em cada caso, identificando partes da cadeia de valor em que a IA oferece potencial de melhoria dos processos. Afinal, com tantas promessas, as novidades também geram receio entre os colaboradores – 76% dos brasileiros acham que a tecnologia afetará seus postos de trabalho, segundo o PageGroup. “O vendedor terá mais capacidade de argumentação e de conhecer melhor o cliente. A IA não vai eliminar as pessoas. Vai ajudá-las a vender mais e a atender mais clientes. Trará superpoderes aos vendedores”.//


O VENDEDOR DEVE SER CAPACITADO PARA TRAZER O QUE A TECNOLOGIA NÃO TRAZ: CUIDADO E EMOÇÃO.

DIANA BRANISSO,
COORDENADORA DO MBA E DA PÓS-GRADUAÇÃO EM MARKETING E MÍDIAS DIGITAIS DA FGV

O PASSO FINAL É DESENVOLVER UMA INTERFACE PARA QUE O CONSUMO DOS DADOS, UMA VEZ DIGERIDOS PELA IA, FAÇA PARTE DO DIA A DIA DOS USUÁRIOS EM UMA JORNADA SEM BARREIRAS DE EXPERIÊNCIA.

RODRIGO SARTÓRIO,
DIRETOR DE PRODUTO DA TOTVS

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NO B2B

– 80% das interações entre fornecedores e compradores ocorrerá em canais digitais em 2025;

– Cada cliente B2B utilizará, em média, 10 canais durante sua jornada de compra.


IA E O DATA-DRIVEN SELLING

– O data-driven selling, conforme o Gartner, será uma realidade para 60% das empresas B2B até o fim de 2025;

– O uso da IA generativa em vendas B2B garante um aumento de produtividade de 10% a 15%;

– Os ganhos com a produtividade adicional ultrapassam US$ 1,2 trilhão nos setores de vendas e marketing.

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