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Agora, você é a agência

Regulamentação do Banco Central que permite o trabalho em home office aos correspondentes bancários dá novo fôlego à expansão do setor e impulsiona a capilaridade do sistema financeiro


Renata Cardoso
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por obile
Correspondente bancario

Baía da Traição é um município paraibano com pouco mais de 9 mil habitantes, a cerca de 83 km da capital, João Pessoa. Composta quase totalmente por reservas de indígenas potiguaras, a cidade abriga casas simples e pequenos prédios, ruas pouco asfaltadas e belas paisagens. Lá não tem rede de esgoto. Tampouco há agências bancárias. Mas tem sete correspondentes bancários (corbans) ativos, segundo o Banco Central (BC). 

A capacidade de chegar onde as agências não estão faz dos corbans importantes peças no sistema bancário nacional. Atualmente, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o país tem cerca de 185 mil correspondentes bancários. Há pelo menos um corban em cada um dos 5.570 municípios brasileiros. Já as agências são pouco mais de 20 mil, espalhadas por 66% das cidades – e essa cobertura vem caindo.  

O BC registrou o fechamento de 2.350 unidades da rede bancária desde o início da pandemia. Enquanto isso, o número de corbans cresceu quase 12% nos últimos três anos. Para Paulo Henrique Félix, especialista em produtos bancários, agências fechadas são sinônimo de mais clientes. “Temos um portfólio cada vez mais diversificado, que vai de financiamento de energia solar a empréstimos consignados para funcionários públicos. Podemos atender uma gama variada de pessoas e empresas”, explica. Ao lado de Vanessa Rodrigues, também correspondente, ele é um dos sócios-fundadores do Profissão Corban, um curso online que ensina como funciona a profissão.  

A adoção ostensiva do trabalho remoto, uma marca do período pandêmico, tornou-se um impulso a mais para o mercado de correspondentes bancários. Em fevereiro de 2022, entrou em vigor a resolução nº 4.935 do Conselho Monetário Nacional, que regulamenta a atuação em home office para corbans. Até então, esse era um serviço restrito a estabelecimentos comerciais, como mercados e lojas. Agora não é mais necessário ter um espaço físico para oferecer atendimento ao público. Um corban digital pode trabalhar da sua casa, captando e atendendo clientes de forma online para os bancos. 

Além da praticidade e da capilarização, o grande diferencial dos corbans digitais está na humanização do atendimento. Seja nos grandes centros ou nas pequenas cidades, eles ajudam quem não quer fazer tudo pelo mobile banking. E estão prontos para prestar um suporte individualizado quando algo eventualmente não sai como planejado. “Passamos por uma fase em que estava todo mundo indo para o digital e achando que não ia precisar falar com mais ninguém. Até aparecer o primeiro problema”, analisa Vanessa Rodrigues. “Gente gosta de falar com gente.” 

De olho nas oportunidades 

A digitalização expande os horizontes da profissão, aliando a flexibilidade à possibilidade de alcançar bons ganhos. Essa democratização era esperada pelo setor havia anos. O novo modelo possibilita que pessoas de outras áreas atuem como correspondentes bancários para obter uma renda complementar. Também é uma boa oportunidade para autônomos e donas de casa. “Muitas pessoas aproveitaram essa oportunidade para entrar no setor. Para mim, é uma revolução”, diz Jefferson Ribeiro, criador da Aprovabancários, um curso preparatório para quem visa obter as certificações de correspondente bancário.    

A ascensão de novos players também é positiva para os bancos, que devem ganhar um número cada vez mais expressivo de canais para escoar seus produtos. Sem contar a redução de custos trazida pelo home office. Outro fator importante é a perspectiva de evolução do Open Finance. Já é possível, por exemplo, ter acesso a marketplaces de crédito. Essas plataformas possibilitam que o corban analise ofertas de financiamentos e empréstimos de várias instituições na mesma interface.   

Ainda assim, para o modelo de corbans digital tornar-se vantajoso às instituições financeiras, alguns pontos precisam ser observados. “Os sistemas devem ser sólidos e seguros. Também é importante seguir rigorosamente aquilo que o Banco Central está estabelecendo como regra de funcionamento. É preciso bastante critério nessa parceria”, alerta Daniel Vasconcelos, professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 

O caminho das pedras 

Não são apenas as certificações que garantem o sucesso de um correspondente bancário. Acima de tudo, é preciso formar um bom networking – seja no WhatsApp da família, com amigos ou no convívio social. O importante é explorar os contatos. Nesse sentido, as redes sociais são ótimas aliadas. Aqui, vale apostar numa boa estratégia orgânica associada ao tráfego pago (anúncios).  

As parcerias também entram na lista de canais para deslanchar na profissão. “É possível fazer uma parceria com uma loja de motos, por exemplo. Você vende um consórcio ou o financiamento. O seu parceiro vende a moto. Fica todo mundo feliz”, exemplifica Félix, do Profissão Corban. Advogados previdenciários e escritórios de contabilidade também podem ser ótimos canais para captação. Félix, entretanto, faz um alerta: o pulo do gato não é empurrar produtos do banco, mas conhecer o cliente, entender qual é a melhor solução para ele e oportunizar a realização de sonhos.  

Crédito, o mais resiliente 

Seja em tempos de fartura ou de recessão, o crédito é uma constante no cenário brasileiro. E o setor deve permanecer aquecido. “Vivemos altos e baixos na economia, mas as pessoas estão sempre contratando crédito. Seja para realizar um sonho ou para resolver um problema”, reforça Vanessa, do Profissão Corban. Ela explica que o consignado é um produto geralmente em alta por incluir pessoas que nunca tiveram acesso a volumes mais elevados de crédito. Valorizar o atendimento e ouvir esse público são a receita para garantir  credibilidade. “Trata-se de um perfil carente de atenção, que gosta muito de conversar.”  

O tamanho do mercado de consignado é dado pelo contingente de previdenciários, servidores públicos e trabalhadores com emprego formal – os principais perfis. O ponto de atenção é que, apesar de vasto, esse segmento terá de lidar com o endividamento da população. Cerca de 80% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). “As pessoas usaram todo o limite de crédito de que dispunham. A não ser que a renda cresça, fica muito difícil elas utilizarem mais crédito”, explica Vasconcelos, da UFSC.  

O professor não vislumbra grandes mudanças nos indicadores financeiros em 2023. Isso, aliado à alta da inflação e da taxa de juros, pode fazer com que o terreno para novos negócios desse tipo fique mais curto. Outro ponto de atenção para quem pretende se tornar corban digital é o risco de ocorrer a chamada “uberização dos serviços”, com parcelas cada vez menores dos contratos. “A expectativa é que isso não ocorra, que os clientes sejam atendidos por mais gente e que surjam novas possibilidades”, pontua o docente. De toda forma, é preciso estar alerta.  

Selos de qualidade: certificações são a chave para quem pretende ingressar no mercado 

Para ser um corban digital, não é preciso ter graduação, cursos específicos ou experiência na área. O único requisito são as certificações, concedidas após testes aplicados por instituições como a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e a Febraban. Para conquistá-las, existem diversos cursos preparatórios. 

De acordo com Ribeiro, da Aprovabancários, um corban deve ter, no mínimo, uma certificação específica da sua área de atuação – Consignado, Crédito Direto ao Consumidor, Veículos ou Imobiliário. Além dessas, há as certificações chamadas de “completas”, que abrangem mais de um serviço.  

Se o correspondente tiver interesse em trabalhar com plataformas multibancos – empresas que funcionam como intermediárias entre o banco e o correspondente –, o caminho é mais fácil do que se associar diretamente às instituições financeiras. Outro benefício de ser multibancos é a possibilidade de comparar diversas ofertas e encontrar a melhor oportunidade para o cliente. 

Quais serviços um corban digital pode operar 

• Receber e encaminhar propostas de abertura de contas de depósitos e de pagamento; 

• Realizar recebimentos, pagamentos e transferências eletrônicas de qualquer natureza; 

• Execução ativa e passiva de ordens de pagamento cursadas por intermédio da instituição contratante por solicitação de clientes e usuários; 

• Receber e encaminhar propostas de operações de crédito (consignado, imobiliário, veicular e outros); 

• Venda de seguros oferecidos pelas instituições financeiras; 

• Operações de câmbio. 

Quanto ganha um corban digital? 

Eis aí uma projeção difícil de se fazer. O faturamento de um correspondente home office varia de acordo com a região, o tempo dedicado, as certificações e os produtos oferecidos. Em média, o valor fica entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, para quem tiver dedicação exclusiva. 

O mercado corban  

  • 20 mil é a quantidade de agências bancárias espalhadas por 66% das cidades brasileiras (fonte: BC); 
  • 3,5 bilhões é o número de transações bancárias feitas por correspondentes em 2021. As agências alcançaram 3 bilhões (fonte: Febraban e Delloite); 
  • 1 a cada 4 boletos são quitados em corbans. O pagamento de contas é a principal transação realizada nesses postos (fonte: Febraban e Delloite). 

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