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Trabalho: O futuro é agora

Em um mundo digital, pautado pela tecnologia, as habilidades humanas irão ganhar cada vez mais importância. Entenda o que esperar do ambiente corporativo para a próxima década


Pedro Nakamura, Sílvia Lisboa e Stéfani Fontanive
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por bem2030

Esqueça as previsões apocalípticas que robôs substituirão pessoas, que viveremos trocando de emprego porque não haverá mais estabilidade ou que nem sequer vão existir vagas formais. Relatórios recentes de algumas das principais consultorias empresariais do mundo, como Deloitte, McKinsey e Robert Half, revelam um cenário diferente. E, acredite, bem mais humanizado do que muitos imaginam.

Movimentos em curso, como a mecanização, a robotização e a digitalização, deverão se intensificar nos próximos anos. Trata-se de um caminho sem volta. E não há dúvida que esses recursos roubarão alguns milhões de empregos braçais, impactando sobretudo países pobres e emergentes. Entre eles, claro, o Brasil. O relatório da McKinsey, por exemplo, estima que cerca de 15% da força de trabalho global – o equivalente a 400 milhões de pessoas – poderão perder seus empregos até 2030.

Por outro lado, os mesmos relatórios apontam que o número de vagas a serem criadas tem tudo para superar o de cortes. Nesse contexto, haverá uma demanda adicional de mão de obra que oscila entre 21% e 33% da força de trabalho global. Isso contempla entre 555 milhões e 890 milhões de novos empregos até o fim da década que recém começa. Esses postos nascerão da quebra de paradigmas, demandando um profissional mais capacitado não apenas no currículo, mas também emocionalmente. “As atividades que irão se destacar terão habilidades difíceis de serem automatizadas, envolvendo capacidades emocionais e sociais, criatividade e alta capacidade cognitiva”, detalha o documento da McKinsey. “As profissões mais vulneráveis à automação envolvem atividades físicas, assistência jurídica, contabilidade e processamento de transações de BackOffice”, explica Bruno Fronza, diretor administrativo-financeiro da Bem Protudos e Serviços, empresa que opera crédito, seguros e produtos financeiros em todo o Brasil.

Encontrar e reter talentos têm sido grandes desafios para boa parte dos recrutadores das empresas. E as dificuldades vêm aumentando ano após ano.

Alexandre ATTUAH
——– Gerente sÊNIOR DE RECRUTAMENTO DA rOBERT hALF ———-

Comportamento é rei

Em um ambiente laboral dominado por máquinas, os atributos comportamentais serão ainda mais valorizados. Tanto é que há um consenso sobre a importância do desenvolvimento humano, algo que será visto como um capital pessoal. Isto é, os profissionais precisarão, mais do que nunca, aprimorar a si mesmos. “A principal habilidade profissional não específica será a vontade de se informar, de aprender e se desenvolver, independentemente de um curso específico”, explica Daniel de Carvalho, professor do Programa de Estudos do Futuro (Profuturo) da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo.

Carvalho refere-se ao conceito de lifelong learning, que preconiza o acompanhamento de tendências, novidades e inovações para qualificar tanto a pessoa quanto seus colegas (leia mais no box à direita).
A formação continuada, aliás, já é um imperativo para quem quer se manter competitivo. O Índice de Confiança da Robert Half mostra que a taxa de desemprego entre profissionais com mais de 25 anos e nível superior completo foi de 5,5% no segundo trimestre de 2019, ante 12% da média geral. Ou seja, pessoas mais qualificadas ganham uma boa dose de imunidade no mercado de trabalho. “A adoção de novas tecnologias exige dos trabalhadores novas habilidades, mas tem como consequência melhores salários”, salienta Fronza.

Flexibilidade em alta

A habilidade de se aprimorar constantemente é ainda mais vital com a previsão de uma flexibilização intensa das formas de trabalho. Eis outra tendência apontada pelos relatórios. Escritórios físicos cederão espaço a ambientes virtuais, e o grupo dos terceirizados crescerá vertiginosamente. Conforme a Robert Half, maior empresa de recrutamento especializado do mundo, 46% dos profissionais de RH esperam que ao menos 20% de suas equipes sejam compostas por temporários ou terceirizados até 2022.

Para quem pretende se lançar em carreira solo – como os freelancers –, esse caminho será cada vez mais cobiçado. “O ambiente de trabalho será mais interativo, flexível e integrado. Muitas empresas estão começando a alterar modelos organizacionais antigos e rígidos e construindo grupos de talentos menores e mais ágeis, que atendem a um determinado mercado ou nicho”, descreve Roberto Wik, diretor de Indústria e Varejo da consultoria em tecnologia Cognizant na América Latina.

Essa flexibilização, somada à crescente aplicação da inteligência artificial e digitalização, exige o que a psicóloga Carolina Fuhrmeister chama de inteligência emocional humana. Segundo ela, que é diretora de Relacionamento da Grou Gestão de Pessoas, o “Mundo VUCA” – acrônimo em inglês para volátil, incerto, complexo e ambíguo – tornou as habilidades comportamentais mais importantes até mesmo que os diplomas. “O papel da inteligência humana neste novo cenário fica ainda mais interessante e estratégico. Caberá às pessoas transformar todo o levantamento de dados que a tecnologia é capaz de apurar em resultados de valor”, resume.

Fuhrmeister destaca a comunicação como uma das habilidades mais relevantes nesse contexto de complexidade. Isso porque, em plena era das conexões e das possibilidades proporcionadas por diversos canais, a comunicação ainda sofre com graves entraves dentro das organizações. “Mas um profissional ‘T’ consegue ter um conhecimento aprofundado na sua área de expertise e, ao mesmo tempo, circular horizontalmente, comunicando-se com todas as outras áreas da empresa”, detalha. A alusão à letra T representa o profissional que consegue ter um conhecimento aprofundado em sua área ao mesmo tempo que circula horizontalmente para se comunicar com outras pessoas, sejam elas seus líderes ou liderados.

Caberá ao ser humano transformar todo o levantamento de dados que a tecnologia é capaz de apurar em resultados de valor para as pessoas e as organizações.

Carolina Fuhrmeister
———- diretora de relacionamento da grou gestão de pessoas ———-

Desafios do Brasil

O Brasil terá de enfrentar grandes desafios se quiser usufruir das projeções feitas, em especial, para economias mais robustas. A pesquisa Preparing Brazil for the Future of Work: Jobs, Technology and Skills (Preparando o Brasil para o futuro do trabalho: empregos, tecnologia e competências), do McKinsey Global Institute, elenca uma série de problemas que pesam para que o país desfrute de um futuro mais tecnológico e inclusivo. Um deles é o desemprego entre os jovens: estima-se que 25% das pessoas entre 18 e 24 anos estão, hoje, sem trabalho. O índice é praticamente o dobro da taxa média de desemprego da população geral. A falta de qualificação, tanto de diploma quanto de experiência, é apontada como uma das principais causas do indicador.

Em plena virada para 2020, o país não chega a ter um terço de seus jovens matriculados em um curso superior – meta que deveria ser alcançada até 2024. E o panorama não é nada promissor: a julgar pelo ritmo atual, só chegaremos lá em 2037. Isso leva a um outro problema que ocupará o topo das preocupações entre os CEOs e demais lideranças nos próximos anos: a dificuldade de encontrar o profissional certo. Conforme a pesquisa O Futuro do Trabalho, da Robert Half, essa tendência obteve 73% na pontuação de maior impacto para os negócios.

Além disso, seis em cada dez recrutadores dizem enfrentar algum nível de dificuldade para selecionar profissionais qualificados. “Encontrar e reter talentos têm sido um grande desafio para boa parte das empresas. E as dificuldades vêm aumentando ano após ano”, afirma Alexandre Attauah, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

Uma das soluções apontadas pelas consultorias é ampliar o uso de plataformas online, como o LinkedIn. Identificar profissionais da própria empresa com perfil próximo à vaga e treiná-los é outro caminho – mas depende de tempo e investimento. O recado é um só: a seleção de talentos não pode ser vista mais como mero processo de uma empresa, e sim uma ação estratégica. “Um alerta para os recrutadores é que tomem a dianteira e acelerem os processos de contratação. Os candidatos não veem com bons olhos seleções muito longas”, completa Attauah. Antes, porém, é bom não esquecer de olhar para dentro de casa. //


8 habilidades do futuro

O avanço da inteligência artificial abrirá espaço para um maior desenvolvimento de capacidades humanas. Confira quais atributos serão essenciais para o ambiente corporativo, segundo a psicóloga Carolina Fuhrmeister:

1 / Automotivação

Empresas procuram pessoas que se mantenham motivadas diante de adversidades. A força de vontade
é valorizada porque colaboradores motivados são capazes de transformar cenários ruins
em positivos.

2 / Criatividade

Um profissional criativo apresenta soluções, gera oportunidades e ousa fazer diferente. Ele tende a ser mais eficaz em solucionar problemas, criar novos métodos de trabalho e propor melhorias em serviços e produtos. 

3 / Comunicação

Falhas de comunicação causam problemas para as organizações. Saber expressar ideias com clareza e transparência para clientes e colegas de trabalho sempre será visto como um diferencial.

4 / Flexibilidade

Estar aberto a novos métodos de trabalho e aos desafios que o mercado impõe é algo de extremo valor para empresas. Ser flexível e resiliente às mudanças, além de saber acompanhá-las, será vital para o profissional do futuro. 

5 / Vontade de aprender

É importante buscar atualização constante, com novos conhecimentos e aprimoramentos. Ou seja, fugir da estagnação e da zona de conforto é essencial para se destacar. 

6 / Bom humor

Cultivar emoções positivas e manter o bom humor leva ao equilíbrio emocional. Isso torna a convivência mais harmônica e os resultados, melhores. Sem contar que o trabalho e o ambiente se tornam mais leves.

7 / Relacionamento Interpessoal

Um bom relacionamento garante empatia com os colegas e líderes, minimiza conflitos e alavanca a capacidade de colaboração. Essa capacidade ajuda no crescimento do profissional e da empresa onde ele trabalha.

8 / Senso de dono

Organizações buscam colaboradores que abracem projetos com a responsabilidade e a motivação de empreendedores. Ser um intraempreendedor, alguém que cresce junto com a empresa, conta cada vez mais pontos para o colaborador. 


Evolução das formas de trabalho

Hard skills, soft skills e tecnologia em perfeita simbiose: entenda o conceito de superjobs, segundo a consultoria Deloitte:

Standard Jobs

Cargos em que o trabalho é executado utilizando um conjunto de habilidades específicas. Geralmente organizados em processos que se repetem e tarefas-padrão. Têm funções e ações previamente definidas.

Hybrid jobs

Cargos em que é preciso uma combinação de habilidades para o trabalho, baseando-se nas competências técnicas e emocionais. Historicamente, as duas habilidades não aparecem combinadas para a execução de uma tarefa. 

Superjobs

Envolvem um conjunto complexo de habilidades técnicas e humanas e usam a tecnologia para ampliar as ações. É a evolução de funções como gerentes e diretores, pois alia técnica e capacidades emocionais, como empatia e colaboração.

Publicado na 1ª edição da Revista 20/30.

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